Por que João Campos lidera pesquisas para governador?

Um questionamento necessário sobre memória política, coerência eleitoral e o desgaste do PSB em Pernambuco

As primeiras pesquisas de intenção de voto para o Governo de Pernambuco em 2026 mostram um cenário que, no mínimo, merece reflexão: João Campos, atual prefeito reeleito do Recife, liderando a disputa contra a governadora Raquel Lyra, que tentará permanecer no cargo. A fotografia desse momento eleitoral provoca uma dúvida legítima: o que leva o eleitor pernambucano a recolocar o PSB na dianteira tão rapidamente, depois de 16 anos seguidos de desgaste no comando do Estado?

É preciso lembrar que João Campos não surge do nada. Ele administra o Recife em seu segundo mandato e sucedeu oito anos de Geraldo Júlio, também do PSB, formando um ciclo de quase 15 anos consecutivos do partido no comando da capital — que, somados aos mandatos estaduais, representam uma hegemonia socialista que marcou profundamente a política pernambucana. João convive com o rótulo — muitas vezes repetido pelos seus aliados — de ser “o melhor prefeito da história do Recife”. Mas, paralelamente, carrega o peso de problemas históricos que o próprio PSB jamais conseguiu resolver: mobilidade urbana deficientíssima, desigualdades entre os bairros, limitações no sistema de saúde e gargalos estruturais que atravessam décadas, obras inacabadas em com diversos aditivos orçamentários.

Quando ampliamos o olhar para o Estado, o cenário é ainda mais emblemático. Foram oito anos de Eduardo Campos e oito anos de Paulo Câmara — 16 anos de um mesmo grupo político no poder. Esse longo ciclo deixou desgastes evidentes na máquina pública e no humor da população, desgaste este confirmado nas urnas de 2022.

A prova está no resultado:
o PSB não conseguiu sequer levar seu candidato, Danilo Cabral, ao segundo turno.
Um fato político contundente, que escancarou o esgotamento de um projeto de poder que parecia inabalável.

Agora, diante do novo ambiente político, surge uma pergunta incômoda — mas inevitável:
se o eleitor pernambucano rejeitou o PSB em 2022, o que explica a predisposição a trazê-lo de volta apenas dois anos depois?

Mais curioso ainda é notar que parte do eleitorado que suportou 16 anos do modelo socialista não completou nem o terceiro ano do governo Raquel Lyra e já demonstra interesse em retornar ao mesmo projeto político que rejeitou tão recentemente.
Afinal, qual o motivo dessa urgência?
Estamos diante de uma memória política curta?
De uma rejeição crescente à atual gestão?
Ou seria a força simbólica da marca Campos ainda maior que qualquer desgaste acumulado?

A verdade é que João Campos tem atributos reais: juventude, domínio da comunicação digital, imagem bem construída e uma gestão que, apesar das críticas, mantém boa aprovação no Recife. Mas nada disso apaga o contexto: sua liderança nas pesquisas não deveria ser tratada como algo natural, e sim como um fenômeno que exige análise e debate.

A disputa entre João e Raquel deve ser intensa e simbólica, uma batalha entre continuidade e ruptura, entre memória e expectativa.
E resta a pergunta que ecoa com força:
o eleitor quer mesmo voltar ao que rejeitou há tão pouco tempo? Ou a dianteira de João nas pesquisas é apenas reflexo da polarização, do desgaste natural de qualquer governo e do peso histórico do sobrenome Campos na política pernambucana?

O tempo — e o voto — responderão. Até lá, observamos o eleitor testar seus limites de coerência política e sua própria capacidade de lembrar o que acabou de viver.

Por Vicente Neto – Blog Pauta 1

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